UMA PAIXÃO CORRESPONDIDA
Diretor de Cinema Paradiso volta com melodrama romântico.
Vencedor do Oscar de filme estrangeiro com o memorável CINEMA PARADISO (1988), o cineasta Giuseppe Tornatore firmou-se como um dos mais bem sucedidos realizadores italianos contemporâneos graças a títulos interessantes como ESTAMOS TODOS BEM (1990), UMA SIMPLES FORMALIDADE (1994) e O HOMEM DAS ESTRELAS (1995). Exibido na programação da Festa do Cinema Italiano como o nome de AMOR ETERNO, o mais recente longa do diretor e roteirista foi rebatizado como LEMBRANÇAS DE UM AMOR ETERNO (2016). Como em seu longa anterior, O MELHOR LANCE (2013), Tornatore escalou um elenco internacional para contar a história de amor entre um maduro professor de astrofísica e uma jovem estudante, que vivem um relação marcada pela ausência e pela obsessão.
LEMBRANÇAS DE UM AMOR ETERNO começa mostrando um encontro em um quarto de hotel entre Ed Phoerum (Jeremy Irons) e Amy Ryan (Olga Kurylenko), apelidada pelo amante de Kamikaze – a garota financia seus estudos trabalhando como dublê de cenas perigosas em filmes de ação. Casado e com filhos, o respeitado acadêmico mantém há seis anos um caso com a ex-aluna. Depois desse dia em Londres, Ed volta a Edimburgo e parece ignorar a partir de então as tentativas da aflita Amy de revê-lo. Meses depois, porém, ele retoma o contato e reacende a paixão por meio de uma intensa correspondência – o título original do filme, menos meloso do que o nome em português, é LA CORRISPONDENZA.
Comunicando-se por e-mails, vídeos gravados, cartas e encomendas, Ed torna-se uma constante presença virtual na existência da amada, conduzindo-a até o idílico povoado à beira de um lago no norte da Itália onde o casal passou junto temporadas românticas. Antes, no entanto, Amy acabará descobrindo a razão da separação física entre os dois e viajará até a Escócia a fim de desvendar os segredos de Ed.
Como sempre nos trabalhos dirigidos por Tornatore, LEMBRANÇAS... destaca-se pela bela fotografia, assinada por Fabio Zamarion, e pela trilha sonora, composta pelo mestre Ennio Morricone – em sua 12ª colaboração com o diretor. O melodrama espelha em certo sentido o mote armado em O MELHOR LANCE: naquele filme, o marchand de arte interpretado pelo ator australiano Georey Rush perdia o prumo e entregava-se à fixação por uma mulher bem mais moça, que surge misteriosamente em seu caminho; desta vez, é a protagonista feminina que sai de órbita por conta do desaparecimento enigmático do homem mais velho que adora. O paralelo reflete-se também nos defeitos: os roteiros de ambas as histórias abusam da implausibilidade e dos diálogos afetados, truncando o envolvimento com a trama e a credibilidade dos personagens. Em LEMBRANÇAS..., as reiteradas missivas de Ed tornam-se cansativas a certa altura, da mesma forma que as metáforas astronômicas utilizadas pelo casal e as conexões edipianas de Amy flertam às vezes com o óbvio e o clichê.
Elogio do poder da palavra, capaz de atravessar o tempo e o espaço para manter a ligação afetiva entre as pessoas, LEMBRANÇAS DE UM AMOR ETERNO mantém-se à tona muito graças ao ótimo desempenho da linda atriz e modelo ucraniana Olga Kurylenko, vista como bond girl em 007 – QUANTUM OF SOLARE (2008), e, especialmente, do astro inglês Jeremy Irons, que empresta dignidade e calor ao discurso amoroso de seu cientista apaixonado.
FONTE: Zero Hora/Roger Lerina (roger.lerina@zerohora.com.br) em 21/09/2016.