Translate this Page




ONLINE
105





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Thelma: um filme de Joachim Trier
Thelma: um filme de Joachim Trier

AS AFLIÇÕES DA ALMA EM DRAMA SOBRENATURAL

 

Candidato da Noruega ao Oscar, THELMA apresenta jovem com poderes paranormais.

  

Os fenômenos paranormais parecem ter saído de moda do cinema, com exceção dos filmes de terror, gênero fantástico por excelência. Antes de se perder no limbo, os personagens sensitivos forneciam enigmas e soluções também a policiais, dramas e suspenses psicológicos. Por isso, THELMA, representante da Noruega na disputa pela indicação ao Oscar de filme estrangeiro, é anômalo em mais de um sentido.

 

O dinamarquês Joachim Trier, em seu quarto longa, reafirma as qualidades de estilo que firmaram seu nome desde os primeiros trabalhos. A primeira sequência de THELMA, por exemplo, combina a inquietação emocional com um domínio admirável do espaço, implantando o mistério de imediato. Sem dar explicações e explorando o poder das elipses, Trier nos aproxima da desordem mental de uma jovem capaz de mover pessoas e provocar fenômenos sobrenaturais.

 

As convulsões e alucinações que ela sofre podem ter origem na ordem familiar repressiva por motivos religiosos ou provir de um distúrbio psíquico escondido no passado. A irrupção do desejo homossexual nesse contexto impõe outra camada torturante à vida mental de Thelma (vivida por Eili Harboe).

 

Uma das características fortes desse tipo de história é a indeterminação entre experiências objetivas e subjetivas, a superposição destas instâncias nas cenas em que o fantástico irrompe no cotidiano e interrompe a normalidade. A vantagem aqui está na multiplicação de hipóteses. A investigação clínica aponta algumas razões que podem aliviar o sofrimento da protagonista. Enquanto isso, o processo de autodescoberta dela introduz uma série de traumas de infância e familiares.

 

O sentimento religioso, por sua vez, é representado na forma do temor e da onipresença de algo superior que vigia, controla e pune. Nesse caso, a figura paterna atua como instância repressora, mas incapaz de dominar as capacidades da filha.

 

O peso dessa relação espiritual atualiza um aspecto comum nas cinematografias nórdicas, desde o sentido do sagrado do dinamarquês Carls Dreyer aos medos confessos e inconfessos da alma em boa parte da obra de Bergman.


Trier renova essa característica conjugando o psicológico com os elementos sobrenaturais que se manifestam na própria natureza, como revoadas de pássaros, aparições de serpentes e cenas em que extraem impacto visual a partir de elementos como água, gelo e fogo.

 

Esse conjunto de temas é tão forte que exige um tratamento capaz de ultrapassar o anedótico. Para não transformar o filme num óbvio jogo de enigmas solucionado com uma viradinha final, Trier adota um registro mais distanciado, reiterado na frieza dos tons da fotografia e na atuação em modo autômato de Eili Harboe. O resultado é, de propósito, gélido.

 

TRAILER:  https://www.youtube.com/watch?v=GuZxgOSnjHk

 

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno em 04/12/2017 

Por Cássio Starling Carlos — Folhapress