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Rodin: de Jacques Doillon
Rodin: de Jacques Doillon

A ARTE MOLDADA EM UMA OBSESSIVA PAIXÃO

 

Filme Francês RODIN destaca o ponto de vista masculino na relação do célebre escultor com sua pupila Camille Claudel

 

Em Cannes, em maio, Jacques Doillon contou como foi cooptado para fazer um documentário de TV sobre o escultor Auguste Rodin. Ele pesquisou muito. Descobriu aspectos da vida do artista que lhe interessaram muito. O documentário não saiu. Doillon achou que seria desperdício não encarar todo aquele esforço. Decidiu que seria melhor abordar o assunto como ficção.

- Teria mais liberdade – avaliou o diretor.

 

RODIN, em cartaz nos cinemas, foi um dos concorrentes à Palma de Ouro na seleção do 70º Festival de Cannes. Simultaneamente, em Paris, o Grand Palais abrigava uma grande exposição comemorativa do centenário de morte de Rodin (17 de novembro de 1917). Todo Rodin reunido no museu nacional francês, incluindo a estátua – projetada para ser um monumento fúnebre – do escritor Victor Hugo. Na época, ela provocou reações viscerais, quase sempre de rejeição. Com o tempo virou um marco definidor da escultura moderna.

- Rodin estava adiante de sua época – sentenciou o diretor.

 

Como artista, ele podia, realmente, estar adiante, mas foi um típico homem de seu tempo – machista. Viveu a vida toda com uma mulher e só “in extremis” reconheceu a união. Seu filho permaneceu bastardo. Como mestre, Rodin coleciona discípulas em seu ateliê, entre elas Camille Claudel.

 

Doillon não encampa a tese feminista de Bruno Nuytten, que, em seu longa de 1988 com Isabelle Adjani, sugere que ela era maior como criadora. Controvérsias à parte, Camille cavou seu lugar na história da arte – a exposição do Grand Palais abriga parte de sua produção, mas sem propor que ela tenha influenciado Rodin (como fazem Isabelle Adjani e seu ex, o diretor Nuytten).

 

Doillon admitiu que, quando resolveu levar adiante seu Rodin, a iniciativa despertou uma onda de dúvidas:

- Gérard Depardieu marcou tanto no papel que os produtores inicialmente, duvidaram que outro ator pudesse se estabelecer no imaginário do público.

 

E ntrou em cena Vincent Lindon, que há dois anos ganhou o prêmio de interpretação em Cannes por O VALOR DE UM HOMEM, de Stéphane Brizé. London considera-se um operário da interpretação. Detesta o jogo das celebridades. Ele se lançou por inteiro no papel. Fez laboratório e, praticando cinco horas por dia, tornou-se escultor.

- Je suis Rodin (eu sou Rodin) – disse ele em Cannes.

 

Izia Higelin, que faz Camille Claudel, completou:

- O cara é tão obsessivo que escupia até nos intervalos de filmagem. No final, poderíamos ter feito uma grande exposição de seu trabalho. Haveria muito o que mostrar, e da melhor qualidade.

 

O filme inicia-se num momento especial da vida e obra de Rodin. Aos 42 anos, ele recebe sua primeira encomenda do Estado, a famosa PORTA DO INFERNO, com elementos emprestados de Dante. Nessa mesma época, acolhe Camille Claudel em seu ateliê. Embora machista, trata-a como igual, em termos de sua arte. Mas a relação é complicada. Dez anos de rupturas e reaproximações, até que ela decide pôr fim à relação. Na arte e na vida, Camille nunca mais irá se recuperar e o próprio Rodin sai ferido da relação. É o que interessa a Doillon. Seu Rodin é um artista potente, e um homem que exerce sua intensa sensualidade – na arte e na vida.

 

Esculpir, na pedra, a carne. Vivenciar seus prazeres. A fratura amorosa, somada à rejeição do seu Victor Hugo, o levam ao limite. O artista contra o mundo, em defesa de suas convicções. Quando o filme foi selecionado para Cannes e chegou ao festival, havia grande expectativa. Falava-se num novo prêmio para Lindon. A imprensa mundial não foi cooptada pelo longa, mas Doillon e Lindon entenderam-se às mil maravilhas. Planejam juntos, agora, e na mesma vertente erótica, um Casanova.

 

A HISTÓRIA CONTADA POR CAMILLE

 

Diretor de fotografia com carreira brilhante, Bruno Nuytten estreou na direção apresentando o premiado CAMILLE CLAUDEL (1988), estrelado por sua então mulher, Isabelle Adjani. Na época, a crítica dividiu-se. O casal criou uma Camille protofeminista, artista maior que Auguste Rodin e mulher massacrada pelo machismo dele. Houve controvérsia quanto ao foco, mas não quanto à interpretação. Gérard Depardieu colou tanto ao papel que ficou igualzinho à imagem conhecida do escultor. E Isabelle, intensa e bela, teve aqui um papel consagrador, dos maiores de sua carreira.

 

TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=3Aio5ElhT_M

 

Fonte: ZeroHora/Luiz Carlos Merten (Estadão conteúdo) em 22/09/2017