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At Eternity's Gate: do diretor Julian Schnabel
At Eternity's Gate: do diretor Julian Schnabel

O ASSASSINATO DE VINCENT VAN GOGH

 

Festival de Veneza exibe produção que rebate teoria que consagrou a morte do célebre pintor por suicídio em 1890.

Willem Dafoe tem elogiada atuação no papel do atormentado pintor holandês.

 

Um novo filme sobre Vicent Van Gogh (1853-1890) trabalha com a hipótese de que o pintor holandês foi assassinado, e não se suicidou, como na versão consagrada em registros históricos. Exibido no Festival de Veneza, que chega ao seu final neste sábado (08/09), na Itália, AT ETERNITY’S GATE apresenta o ator americano Willem Dafoe no papel do artista.

 

Na trama, o pintor é baleado após lutar com jovens locais que o hostilizavam perto da aldeia de Auvers-sur-Oise, nos arredores de Paris, onde passou seus últimos meses de vida, em 1890, Van Gogh morreu 36 horas depois de voltar cambaleando para a pousada em que se hospedava.

 

Enquanto a maioria dos historiadores concorda que Van Gogh se matou, o diretor americano Julian Schnabel alimenta no filme a teoria de que ele foi morto. Schnabel, que também é pintor, estreou no cinema com a cinebiografia de outro pintor, em BASQUIAT – TRAÇOS DE UMA VIDA (1996), e foi indicado ao Oscar de direção com o drama biográfico O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (2007).

 

O renomado roteirista francês Jean-Claude Carriere, parceiro de Buñuel em clássicos como A BELA DA TARDE e O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA, coescreveu o roteiro com Schnabel. Ele disse à AFP que não há nenhuma prova de que o pintor tenha se matado.

- Se acredito que Van Gogh se matou? Absolutamente não! Ele voltou para a pousada com uma bala no estômago e ninguém nunca encontrou a arma ou seus materiais de pintura – afirmou Carriere. – Temos lutado contra a sombria lenda romântica de Van Gogh. No último período de sua vida, ele estava trabalhando constantemente. Todos os dias fazia um novo trabalho.

 

As últimas semanas de vida do artista, quando pintou o RETRATO DE DR. GACHET – quadro que bateu um recorde mundial quando foi vendido, em 1990, por US$ 82,5 milhões – não foram “nem um pouco tristes”, argumentou o escritor.

 

Schnabel insistiu que era improvável que um homem que pintou 75 telas em seus 80 dias passados em Auvers-sur-Oise fosse um suicida.

 

A teoria de que Van Gogh não cometeu suicídio foi levantada pela primeira vez em uma biografia de 2011 do pintor escrita por Steven Naifeh e Gregory While Smith.

- Nem a arma nem o material de pintura que ele tinha naquele dia foram encontrados. É estranho enterrar sua merda se você está cometendo suicídio – Schenabel destacou.

 

AT ETERNITY’S GATE também deve abrir uma nova frente na discussão relativa ao caderno de esboços “perdido” de Van Gogh, que supostamente ressurgiu após 126 anos, em 2016, e foi autenticado por dois eminentes historiadores de arte no ano passado.

 

O veterano especialista britânico Ronald Pickvance afirmou que o livro foi “a descoberta mais revolucionária da história dos estudos de Van Gogh”.

 

Mas o Museu Van Gogh, em Amsterdã, contesta sua procedência e afirma que os desenhos são falsificados. Originalmente um livro de cotabilidade do Café de la Gare em Arles, onde Van Gogh se hospedou em vários momentos entre 1888 e 1890, aparece com destaque no filme.

 

ANIMAÇÃO INDICADA AO OSCAR ABORDOU O TEMA

 

Cotado para o prêmio de melhor ator em Veneza, Defoe lembrou que, ao filmar nos campos em torno de Arles, onde o holandês pintou, e no asilo em Saint-Remy, “flertamos com o fantasma de Van Gogh”; Schnabel disse que o filme não pretendia ser um filme biográfico factual, porque “toda história é uma mentira”:

- Eu não me importo se o caderno é real ou não, se ele se matou ou não. É irrelevante. Mas no filme é bom saber que existe outro conjunto de possibilidades. Também era uma oportunidade para eu dizer coisas sobre pintura, e foi muito divertido falar através de Van Gogh.

 

O diretor também queria corrigir a má reputação que Paul Gauguim, pintor e amigo de Van Gogh, obteve da história. Van Gogh pode ter cortado a própria orelha quando o pintor anunciou que o deixaria para voltar a morar em Paris.

- Gauguin realmente se importava com ele – disse Schnabel.

- Ele é retratado normalmente como um idiota. Anthony Quinn (no filme de 1957 Sede de Viver, de Vincente Minnelli, com Kirk Douglas como Van Gogh) interpretou-o assim, mas Gauguin não era um idiota.

 

A possibilidade de a morte do artista ter sido decorrência de um crime e não de um suicídio, levantada por AT ETERNITY’S GATE, é um tema presente também na bela animação polonesa indicada ao Oscar COM AMOR, VAN GOGH (2017), toda realizada com pinturas que emulam os traços do pintor.

 

 

 

 

Fonte: AFP/Veneza-Zero Hora/Segundo Caderno em 06/09/2018