TRILOGIA “MILLENNIUM” GANHA CONTINUAÇÃO.
Jornalista sueco David Lagercrantz lança o quarto volume da série criada por Stieg Larsson, que morreu em 2004.
Sexo, violência, números primos, autismo, inteligência artificial e uma enorme tatuagem de um dragão. Com essa barafunda, o jornalista sueco David Lagercrantz constrói o quarto volume da série Millennium, criada pelo também sueco Stieg Larsson (1954-2004) e aclamada como uma das franquias literárias de maior vendagem da história.
O recém-lançado A Garota na Teia de Aranha exibe números impressionantes: chega a dezenas de países, com tiragem inicial de 2,7 milhões de exemplares. O que não chega exatamente a surpreender, pois a série estrelada pela jovem super-hacker Lisbeth Salander e pelo jornalista investigativo Mikael Blomkvist já vendeu mais de 80 milhões de exemplares desde o lançamento, em 2005.
Sim: os manuscritos das três novelas que originalmente formam a série foram publicados depois da morte de Larsson. Agora, seus herdeiros – pai e irmão – contrataram um escritor para produzir a continuação da franquia. A companheira de Larsson, Eva Gabrielsson, que não é herdeira legal do escritor, condena a sequência como manobra para faturar mais alguns milhões. Joakim e Erland Larsson, pai e irmão de Stieg, negam. Dizem que os lucros serão repassados para a Expo, revista antirracismo da qual Stieg foi cofundador.
Por seu lado, Lagercrantz se declara entusiasmado com o projeto.
- Esse é o trabalho de minha vida, escrevi com paixão, não por dinheiro – diz Lagercrantz, que, antes de criar sua história, tratou de ler e reler as tramas produzidas por Larsson. – Havia muitos desafios. O maior era encontrar uma trama. Precisava não apenas recriar o trabalho dele, mas colocar algo meu na história.
Pois conseguiu. Do ponto de vista formal, o fã de Larsson vai se sentir à vontade ao abrir o volume. Logo reconhecerá a mesma estrutura dos demais livros, cada capítulo identificado por uma data ou sequência de dias, epígrafes abrindo cada uma das partes do texto. Salander e Blomkvist são recriados tal e qual o figurino da série, com bônus para o fã: Lagercrantz mergulha na infância da super-hacker para finalmente explicar por que a garota se tornou especialista em computação. O jornalista, por seu lado, precisa enfrentar ameaças à própria existência da sua revista, a Millennium, que acaba de ser engolida por uma corporação de mídia. A figura mais emblemática da história é, porém, uma das vítimas: um garoto autista que se revela mestre do desenho.
- Acordei às quatro da manhã pensando em uma história antiga, de um menino autista com capacidades especiais para o desenho. Então, imaginei o que poderia acontecer se um menino assim estivesse no meio de algo terrível, como um assassinato. Bang, bang! Eu tinha uma história – contou.
De fato, uma boa historia, que ainda traz para os holofotes a gêmea de Salander: Camilla continua à solta depois de seduções, tortura e assassinatos. Sai da trama como a dizer que a série Millennium não acaba agora.
- Talvez eu faça, talvez eu não faça uma sequência – solta Lagencrantz, cujo livro mais conhecido até agora foi uma biografia do goleador sueco Zlatan Ibrahimovic.
- Vamos ver.
SEM PREVISÃO DE SEQUÊNCIA NA TELA
A Garota na Teia de Aranha, de David Lagencrantz, romance, Cia. Das Letras, 472 páginas em média. Tradução de Fernanda Sarmatz Akesson e Guilherme Braga.
“Por que diabos ainda não fizeram as continuações?”, escreve, inconformada, uma usuária do IMDb, o banco de dados virtual sobre cinema, na caixa de comentários do verbete de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011).
Ao contrário do que se deu na Suécia – país natal de Stieg Larsson e onde seus três livros da série Millennium viraram filmes – a franquia hollywoodiana não passou do primeiro volume, dirigido por David Fincher em 2011. Tanto Daniel Craig quanto Rooney Mara, atores principais, assinaram contrato para prosseguir na série. Mas as filmagens de A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar têm sido postergadas ano após ano.
Em 2011, David Fincher chegou a declarar que pretendia rodar ambas as continuações na Suécia simultaneamente e que o segundo filme sairia dali a dois anos. Mas boatos de que todo o script teve de ser reescrito passaram a circular ao mesmo tempo em que o diretor se manteve ocupado promovendo House of Cards, produzida por ele. Em 2014, Fincher continuava afirmando que as continuações sairiam, sem especificar data.
Foi a atriz Rooney Mara quem jogou um balde de água fria, em fevereiro deste ano.
- Não acho que vá acontecer – contou ao canal de entretenimento E. – Fico triste, mas não parece estar em jogo.
Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/1º setembro de 2015.