PARA LER ECO
MORTO AOS 84 ANOS, UMBERTO ECO DEIXOU UMA OBRA DE MÚLTIPLA RELEVÂNCIA QUE MOSTRA SEU TRÂNSITO POR DIFERENTES ÁREAS DO CONHECIMENTO, DO UNIVERSO ACADÊMICO À PRODUÇÃO LITERÁRIA.
“OS LIVROS NÃO SÃO FEITOS PARA QUE ALGUÉM ACREDITE NELES, MAS PARA SEREM SUBMETIDOS À INVESTIGAÇÃO. QUANDO CONSIDERAMOS UM LIVRO, NÃO DEVEMOS PERGUNTAR O QUE DIZ, MAS O QUE SIGNIFICA.”
“AS REDES SOCIAIS DÃO O DIREITO DE FALAR A UMA LEGIÃO DE IDIOTAS QUE ANTES SÓ FALAVAM EM UM BAR DEPOIS DE UMA TAÇA DE VINHO, SEM PREJUDICAR A HUMANIDADE. ENTÃO, ERAM RAPIDAMENTE SILENCIADOS. MAS, AGORA, TÊM O MESMO DIREITO DE FALAR QUE UM PRÊMIO NOBEL. É A INVASÃO DOS IMBECIS.”
Um dos intelectuais de maior atuação e projeção internacional, dono de uma erudição pop que o fez transitar entre as áreas acadêmica, editorial e midiática, Umberto Eco será enterrado amanhã (matéria de 22/02/2016) na Itália. Morto na sexta-feira, aos 84 anos, o teórico e escritor italiano, que vendeu 30 milhões de livros traduzidos para mais de 40 idiomas, está sendo velado no Castelo Sforzesco, em Milão. O imponente local foi especialmente escolhido: nele está abrigado um museu com obras de Da Vinci e Michelangelo que Eco via da janela de sua casa, onde mantinha uma biblioteca com 30 mil volumes. Conforme seu pedido, o escritor, que era ateu, recebeu um funeral laico. A causa da morte não foi informada pela família. Porém, segundo a agência de notícias France Presse, ele lutava contra um câncer. Nesta página, confira alguns livros que repassam o legado de Eco em suas diversas frentes de atuação.
O ESTETA
Antes de se tornar mundialmente conhecido pelos trabalhos em semiologia e literatura, Umberto Eco se destacou na filosofia da arte, especializando-se nas teorias estéticas da Idade Média. Em 1956, 1956, aos 24 anos, publicou sua tese sobre a estética em São Tomás de Aquino. Esse estudo é a base do livro ARTE E BELEZA NA ESTÉTICA MEDIEVAL (1987, Record). Outros títulos seus conhecidos em estética e história da arte são HISTÓRIA DA BELEZA (2004, Record) e HISTÓRIA DA FEIURA (2007, Record).
O SEMIÓLOGO
Nos anos 1960, Eco se tornaria, ao lado de nomes como Roland Barthes, uma das principais vozes da semiologia, campo de estudos das teorias da linguística e do estruturalismo. São desse período duas de suas obras mais famosas, hoje referenciais nos estudos de comunicação. A primeira, OBRA ABERTA (1962, Perspectiva), tornou-se um marco ao desenvolver a ideia de que o sentido de uma obra é completado pela interpretação de um leitor/espectador para além da intencionalidade do autor/artista – ele desdobraria o tema em OS LIMITES DA INTERPRETAÇÃO (1990, Perspectiva). A segunda, APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS (1964, Perspectiva), colocou em discussão a alta cultura erudita e a baixa cultura popular no período da comunicação de massa e da indústria cultural.
O ROMANCISTA
Consagrado como teórico e aproximando-se dos 50 anos, Eco ganhou o grande público com seu primeiro romance, O NOME DA ROSA (1980, Best Bolso). O livro, que vendeu milhões de exemplares no mundo, foi adaptado em 1986 para o cinema pelo francês Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery no papel do monge franciscano Guillaume de Baskerville, o ex-inquisidor encarregado de investigar a morte suspeita de uma freira em uma abadia do norte da Itália. Depois, Eco lançaria outros romances, como O PÊNDULO DE FOUCAULT (1988, Record), A ILHA DO DIA ANTERIOR (1994, Record) e A MISTERIOSA CHAMA DA RAINHA LOANA (2004, Record). Sua mais recente obra literária, NÚMERO ZERO (2014, Record), é um thriller contemporâneo centrado no mundo da imprensa.
OBRA PÓSTUMA
Eco deixou um livro pronto: PAPE SATÀN ALEPPE, com textos publicados desde 2000 na coluna La Bustina di Minerva, do Jornal L’Espresso. O título vem da frase de abertura do Canto 7 do Inferno, de Dante Alighieri. Selecionados pelo próprio Eco, os textos têm como ponto em comum a noção de uma sociedade líquida, conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman. Eco assinava a coluna desde 1985, e o último texto, publicado em 27 de janeiro, tratava da exposição, em Milão, do pintor do romantismo Francesco Hayez. PAPE SATÀN ALEPPE ainda não tem edição brasileira confirmada.
Fonte: ZeroHora/ZH 2º Caderno (segundocaderno@zerohora.com.br) em 22 de fevereiro de 2016.