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Dario Fo: Italiano, Nobel de Literatura em 1997
Dario Fo: Italiano, Nobel de Literatura em 1997

A MORTE NATURAL DE UM ANTICONFORMISTA

 

Nobel de Literatura em 1997, Dario Fo morreu em outubro, em Milão, aos 90 anos.

 

No mesmo dia em que Bob Dylan conquistou um inédito Nobel de Literatura para o rock, morreu em Milão, na Itália, aos 90 anos, o autor, ator e diretor de teatro italiano Dario Fo, premiado pela Academia Sueca, em 1997, “por fustigar o poder e restaurar a dignidade dos humilhados”.  Na época, o Nobel de Dario Fo foi interpretado como um reconhecimento ao teatro político.

 

Nascido em 24 de março de 1926 na Lombardia, em uma família operária antifascista, Dario Fo estudou pintura e arquitetura antes de iniciar sua bem-sucedida carreira teatral – no início da década de 1950.  Intelectual comprometido e uma referência moral para a esquerda italiana, o dramaturgo deixa mais de cem obras teatrais, entre as quais se destacam MISTERO BUFFO (1969) e MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA (1970), Nas quais critica a Igreja, a máfia e o poder político.  Com Dan Stulbach no papel principal, uma montagem recente de MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA foi exibida em setembro/2016 no Theatro São Pedro, durante a programação do 23º Porto Alegre Em Cena.

 

Fundador, junto com a ex-mulher Franca Rame – musa, companheira e coautora de inúmeras peças de teatro – do grupo La Comune, nos anos 70, Dario Fo soube tratar com ironia tanto temas políticos como conflitos sobre o amor e o sexo.  Anticonformista, simpatizante comunista, admirador da experiência chilena de Salvador Allende, era chamado de “o mestre” por atores e autores de teatro, sendo um dos dramaturgos mais representados da cena contemporânea.

 

AUTOR JAMAIS TEVE BOAS RELAÇÕES COM O PODER

 

Censurado pela televisão pública nos anos 1960, por apontar a hipocrisia da chamada “sociedade burguesa”, assim como por suas canções revolucionárias e por acreditar no amor livre, falar da infidelidade amorosa e ter uma especial sensibilidade pela problemática feminina, Dario Fo jamais teve boas relações com os representantes do poder.  Seus monólogos e esboços, cheios de   crítica social, deixam uma ampla margem para a improvisação e se inspiram na commedia dell’arte, assim como no teatro de Vladimir Maiakovski e Bertolt Brecht.

 

Sua obra aborda todas as questões políticas e sociais de seu tempo: a guerra do Vietnã, o assassinato do presidente John Kennedy, a questão palestina, a aids, o aborto, a corrupção e a ecologia.  Com Franca Rame, falecida em 2013 aos 83 anos, teve seu único filho, Jacopo Fo, sócio e cúmplice em suas inúmeras aventuras, formando atores e levando o teatro a fábricas e às ruas.

 

Em seus textos, Fo não poupou dardos contra um sistema político que considerada corrupto e injusto e em seus espetáculos ridicularizava o então magnata e primeiro-ministro Silvio Berlusconi, personagem a quem detestava abertamente.  Era um expert em pintura, admirador dos afrescos de Piero dela Francesca e também capaz de pintar e reproduzir grandes autores como Picasso.

 

Em 2007, aceitou ser candidato à prefeitura de Milão, mas nos últimos anos de vida, decepcionado com a política, apoiou o Movimento 5 Estrelas, do cômico Beppe Grillo, com quem escreveu, em 2013, a obra Il grillo sempre canta al tramonto.

 

Fonte:  ZeroHora/Memória 2º caderno em 14/10/2016.