A DEMOCRACIA COMO UM IDEAL
MARIO VARGAS LLOSA FOI O PRIMEIRO CONVIDADO DO FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2016 NA CAPITAL.
Sua própria vida. Esse foi o eixo condutor de Mario Vargas Llosa na defesa invariável à democracia que apresentou quarta-feira em Porto Alegre, em sua conferência no Fronteiras do Pensamento. O escritor peruano falou sobre momentos que o fizeram abandonar uma visão de mundo simpática ao socialismo para se dedicar cada vez mais ao debate sobre o regime democrático liberal. Aos 80 anos, Llosa falou por mais de uma hora de modo contundente, por vezes até inflamado, sobre como se encantou com o ideal socialista ainda na adolescência, chegando a militar por um ano no então clandestino Partido Comunista Peruano. Mais tarde, participou de um comitê de intelectuais da Cuba de Fidel Castro.
- Fui descobrindo por alguns episódios que a ideia que fazíamos de revolução não correspondia à realidade. Era uma visão romântica, mítica, mas a ilha vista de dentro tinha características bem diferentes – afirmou o escritor.
Para Llosa, o descrédito total com o socialismo se deu com o estabelecimento das Unidades Militares de Ajuda à Produção (Umaps) em Cuba:
- Eram um eufemismo para campos de concentração. Ali, a revolução colocava dissidentes, delinquentes comuns e homossexuais.
Já as ideias liberais se sedimentaram no escritor a partir de leituras de pensadores como Isaiah Berlin e Karl Popper.
- As sociedades que praticam há mais tempo a democracia liberal são as que mais conseguiram reduzir a violência e criar condições dos homens realizarem seus sonhos e ambições – afirmou.
Questionado sobre a situação política brasileira, no dia em que o Senado votava o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, posicionou-se.
- Está ocorrendo um movimento anticorrupção. Há cada vez mais um sentimento de desgosto e rebeldia contra o abuso de poder, contra quem usa o poder para enriquecer. Esse sentimento me parece muito positivo, pois não pretende destruir a democracia, mas limpá-la, torná-la cada vez mais decente e transparente – disse Llosa, recebendo aplausos da plateia.
O escritor também observou avanços na política latina nos últimos anos:
- O Uruguai já foi de uma esquerda muito radical. No entanto, esta mesma esquerda, que não acreditava na democracia, hoje a pratica. Além disso, o país tem uma economia aberta, de mercado. Isso pareceria inconcebível há 20 ou 30 anos para um esquerdista.
Durante as perguntas, o conferencista também se manifestou a respeito do candidato a presidente dos Estados Unidos Donald Trump:
- É um palhaço monstruoso – exclamou. – Mas um palhaço pode ser muito perigoso. Trump toca em um nervo humano profundo: o da desconfiança em relação ao outro, ao diferente. Desperta o preconceito das pessoas para conseguir votos. Não creio que será eleito, mas, caso seja, será gravíssimo para os EUA e para o que o país representa ao mundo ocidental.
Fonte: ZeroHora/Segundo Caderno/Alexandre Lucchese (alexandre.lucchese@zerohora.com.br) em 13 de maio de 2016.